Proposta de Divisão do estado do Pará, a quem isso interessa e quais os efeitos?

A sociedade paraense se vê perto de um plebiscito para dizer sim ou não a divisão do Pará, ou melhor a criação do Tapajó e do Carajás. Isso me faz pensar um pouco sobre os impactos que se aprovado neste pleito, um ou os dois projetos de novos estados terão para a população.

Existem quatro possibilidades de votos: Sim-Sim, Não-Não, Sim ao Tapajós-Não ao Carajás e Não ao Tapajós-Sim ao Carajás. Porém basicamente se vota em duas possibilidades, fragmentar para tentar desenvolver separadamente ou manter unidos e tentar solucionar os problemas juntos.

Ao presenciar vários debates sobre essa questão, percebo o despreparo da maioria de nossos políticos para tratar a questão, ou será puro cinismo e interesses obscuros?

Eu fico a imaginar o que esta por trás de discursos vazios por vezes eufóricos, apesar de reconhecer como legítimos os problemas apontados pelos que defendem a fragmentação, também reconhecer que hoje existe sim uma briga muito grande pelo poder no estado por parte das elites, não creio que os problemas se resolverão com a criação de Tapajós ou Carajás. 

Como sabemos eleger políticos na maioria das vezes custa vultuosas somas de dinheiro, os números estão ai para provar este fato, sabendo disso me faço um questionamento, em dois novos estados mal estruturados quem será que viria a assumir o poder? será que seriam os que realmente estão preocupados com os interesses do povo? ou seria os candidatos preocupados em defender os interesses de uma classe economicamente abastada? Pois estes sim teriam o quantia que precisarem para financiar suas campanhas.

Partindo da hipótese (bastante provável) de que quem irá assumir o governo do Tapajós e Carajás caso venham a ser criados, seja parte das elites locais, fico a me perguntar não seria uma tentativa de promover uma modernização conservadora? ou seja crescer economicamente e concentrar renda, mantendo assim o povo alijado do processo de desenvolvimento.

No estado do Carajás creio que os grandes pecuaristas terão grande influencia politica, então fico a me perguntar o que estes farão, e logo me vem a hipótese de que vão usar o estado do Carajás para combater os movimentos sociais que revindicam reforma agraria e afins, acirrando assim os conflitos no campo, isto mesmo sabendo que a maior parte das terras paraenses são griladas chegando a estar registrado hoje um estado e meio em cartório, evidenciando a grilagem, isso sabendo que mais de 70% das terras paraenses hoje são federalizadas.

Quanto ao Tapajós, apesar de ser um projeto muito mais antigo, acaba tendo os mesmos problemas do Carajás, e para piorar segundo alguns estudos inclusive do geografo doutor Gilberto Rocha, o modelo que se apresenta como forma mais viável hoje de desenvolvimento a esta área seria um modelo de desenvolvimento verde, porém sabemos que isto não combina com o perfil de quem comandará o este estado.

Se o povo paraense fosse mas politizado e com nível de instrução maior e além disto partisse do povo a proposta de divisão, seriam projetos que não me colocariam tanto medo, no entanto não é esse o caso, sendo assim temos de pensar muito bem no que decidir e de como nos posicionar.

Enfim creio que a criação destes estados neste momento só iria gerar uma situação de maior opressão do povo, deixando as classes mais abastadas desses estados ainda mais ricas e a maior parte da população cada vez mais pobre. Precisamos sim pensar enquanto sociedade em formas reais de promover o desenvolvimento e como saciar as necessidades das populações das áreas que revindicam a separação, devemos exigir de nossos representantes que apresentem soluções a nossos problemas.

Por Thiago Bessa para Visão de Um Ponto